O que une as pessoas?
Bianca sentada na muretinha do quintal, com uma flor amarela pendurada no cabelinho desgrenhado e acariciando o gato da vizinha que ronronava satisfeito, declarou:
- Eu não quero nunca me casar! Pra quê? Quero ter um gato. E um porco. – Respirou fundo como quem se sentisse aliviada. No final das contas, era mesmo uma espécie de alívio. Foi por isso que decidi falar sobre relações humanas, em específico, o casamento.
Eu sei que a maioria dos sociólogos se comprometem a estudar fenômenos estritamente socioeconômicos e culturais, que vá fazer alguma diferença para a humanidade, mas como não sou a maioria e nem socióloga (ainda), vou exclusivamente tratar aqui, nesse ensaio-discussão, como diria Richard Sennet, de pessoas e seus relacionamentos com pessoas. A minha preferência em estudar ciências sociais foi sempre claramente o indivíduo e suas relações na sociedade e eu quero mesmo discutir sobre isso aqui.
Por vezes minha prosa vai soar um tanto parecida com livros de autoajuda, beirando a literatura, mas quero deixar claro que não vou te dizer de que maneira as pessoas devem agir e sim discutir e estudar suas ações como ser humano pensante.
Eu tenho essa ideia na minha cabeça há um tempo. Quando me senti saturada das relações humanas cada vez mais frouxas, decidi estudar ciências exatas a fim de encontrar uma equação que me explicasse tudo isso. Eu sei que isso é um tanto quanto ingênuo, mas minha indignação era tanta e, todas as possíveis respostas tão variáveis, que me exaustei. Agora que retornei para meu habitat natural, as ciências humanas, percebo que são justamente as variáveis que dão um sentido para seguir com a linha do pensamento.
Para tanto, conceitos da sociologia compreenssiva de Max Weber poderão me orientar: Ação social, relação social e os intrumento de um sociólogo para analisar a realidade, os tipos ideiais.
Não pense que você encontrará alguma resposta ou conclusão pontual, apesar de ser o meu maior desejo encontrar alguma resposta ou conclusão pontual, a intenção aqui é apenas dialogar através de exemplos e situações. É um tanto triste pensar que eu desisti de procurar uma resposta? Ou será que entendi que somos universos em expansão? Cada relacionamento humano é muito genuíno. Cada pessoa é um mundo de possibilidades. Cada pessoa é um mundo completo. Participar de um outro mundo que não seja o seu não é uma ação sem reação. Não é fácil e nem livre de riscos. Você não consegue mergulhar no mar sem se molhar. Você não consegue tocar o mar sem se molhar.
Observações que fiz ao longo das minhas vivências e que agora chegou a hora de mostrar:
Eu sempre quis me casar. Véu, grinalda e um amor. Gêmeos. Família. Era esse, provavelmente, meu conceito de felicidade. Eu sempre fui para casar, estava claro. Até agora. Mas o que é ser para casar? Aos 4 anos eu brincava de casinha e casamento, eu lembro. Foi um momento que eu esperei ansiosamente para acontecer, até quando fiquei adulta e muitas relações humanas não fizeram mais sentido para mim. Veja bem:
(Todas as pessoas citadas eu conheço e observei ao longo da vida)
Mariana tem 18 anos, acabou de entrar na faculdade de Direito. É da classe alta e tem um carro importado do ano esperando-a na garagem. Boa moça, não sabe nada da vida adulta. Teve alguns namoricos no colegial, mas sem sucesso, no momento está oficialmente namorando com um cara 5 anos mais velho que ela. Milionário. Já aprontou todas. Mariana é para casar? Suas relações sempre parecem previsíveis e acontecem muito rápido.
Julia tem 19 anos, ainda não decidiu sua profissão, passa o dia fazendo brownies para vender, por hobbie, claro. Namorou por 4 anos com um garoto que conheceu no colégio. Atualmente, faz 2 semanas que decidiu terminar o longo namoro e por ora já está em outra. Quero dizer, está de fato namorando novamente. Dessa vez é um garoto que está concluindo a faculdade de Medicina. Julia nunca foi a nenhuma festa sozinha. O “quase-médico” por sua vez, também, já aprontou todas e provavelmente teve todas as garotas que já quis. Julia é para casar?
Tanto a Mariana, quanto a Julia, têm algo bastante solicitado, a falta de experiência. Enquanto ambas poderiam aproveitar a vida aparentemente maravilhosa que têm, elas estão sendo as namoradas perfeitas de caras que já fizeram tudo que deveriam ter feito e agora querem uma boa moça a quem apresentar à sociedade. Seria essa a lógica?
“Ser para casar” seria dizer amém à submissão e abrir mão da vida e das experiências que você só ganha vivendo? Para viver a vida toda em um casamento em que a sua autonomia pessoal é destruída porque não existe base alguma para se referenciar? Quais as chances dessas garotas serem vítimas de infidelidade? Por que os caras têm tanto medo de mulheres independentes? Seria mais fácil controlar uma mulher que teve apenas um namorado na vida do que uma mulher que teve uma vida igualmente ao cara, digamos, que fez tudo que deveria ter feito?
Eu quero me casar. Cuidar das plantas, cozinhar, pôr a mesa, vestir meus filhos, limpar a cozinha e deixar todas as roupas perfumadas. Isso não tem nada a ver com submissão porque eu quero viver essas coisas, mas quero viver com um homem que tenha consciência que eu tive uma vida sem ele e ainda tenho uma vida própria e que cozinhar todos os dias para ele foi uma escolha e não uma consequência. Ou seja, eu também quero ser “para casar”, e isso não significa que eu não possa fazer coisas como sair sozinha e me sentir independente, coisas que Mariana e Julia provavelmente nunca fizeram.
“Alguém precisa ser o submisso”. Minha irmã afirmou enquanto discutíamos o assunto. Tem mesmo “regras” para estar numa relação humana?
Claudia e Renato namoram há 3 anos. Ambos da mesma idade. Claudia teve alguns vários romances antes de namorar Renato. Renato não. Claudia praticamente estreou a vida do garoto. O relacionamento parece funcionar que é uma beleza. Claudia sabe como são os garotos, é confortável para ela ter Renato, leigo e inocente ao seu dispor.
Isabel e Arthur namoram desde muito jovens, nenhum, nem outro tiveram outros relacionamentos. Isabel entrou na faculdade. Arthur também. Isabel se viu independente e morando sozinha. Ela não quer mais namorar o rapaz. Arthur não imagina uma vida sem Isabel, ela sempre esteve à frente de qualquer coisa na vida dele.
Renato e Arthur são submissos?
Camila é formada em Direito, mas nunca trabalhou na sua área. Morava com os pais até conhecer Bruno, marido e pai. Muito fez que acabou conseguindo separar a família. Camila e Bruno foram morar juntos, ela o ama e aceita várias coisas que não deveria. Pois bem, tem uma casa linda e status. Para ela, seria pior sem ele: “Porque eu não deveria aceitar algumas coisinhas que, bem, me incomodam só às vezes? ”
Camila é claramente submissa? Alguém precisa baixar a orelha. Palavras da minha mãe. Por que precisa ser assim? Seria uma espécie de receitinha de convivência?
Vejamos agora a história de um casal muito conhecido:
Eduardo e Mônica. Se encontram sem querer, claro. Ele estava na escola e ela estudava Medicina (quais a chances de frequentarem os mesmos lugares?) Eduardo tinha 16 anos e ainda jogava futebol de botão. Mônica tomava conhaque logo de manhã. Eduardo nem sabia beber. Me perdoem o vocábulo, mas o Eduardo não sabia porcaria nenhuma sobre nada. Era um garotinho no colegial e Mônica era a única que falava sobre tudo. Ela gostava de coisas extremamente distintas as que o garoto estava acostumado a ver. (Eu gostaria de saber sobre o que eles conversavam.). Mônica estava numa fase a qual o Eduardo nunca chegou. Essa história é sobre amor, mas veja bem, o quanto submisso Eduardo deve ter sido? Por isso funcionou? É mesmo fora de comum ou sou de fato muito exigente em querer alguém que pelo menos entenda a porção de coisas que gosto e consiga argumentar sobre? "Case-se com alguém que goste de conversar com você."
Eduardo era o famoso “moço para casar”?
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