o amor se tornará insustentável
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Tomas ama profundamente Teresa. Eu não tive dúvidas. Para ele, suas aventuras amorosas nada tinham a ver com o amor que sentia por Teresa. Nenhum risco, nenhuma possibilidade de mudar o que sentia pela moça. Tudo bem? Não! Teresa sofria com isso. Como pode alguém amar e permitir que a outra pessoa sofra?
Eu já cheguei a pensar que o amor não é compatível com a natureza animal, e quando digo animal, por ora incluo o ser humano também. O amor levaria a ruína a evolução das espécies. Uma tese forte, mas veja, assim como os gregos antigos descreviam uma vertente do amor como pathos, doença, sofrimento e paixão, ou como os estoicos que visualizavam nessa força interior na verdade uma grande fraqueza. O amor é um impulso que atrapalha?
Cheguei nesse questionamento justamente por observar Tomas e Teresa no livro A insustentável leveza do ser. Pra mim ficou claro que o rapaz amava a moça, no entanto, ela não era carnalmente o suficiente para ele. Tomas gostava de desvendar e explorar novos corpos, de buscar a peculiaridade de cada alma que tocava. Teresa adoecia com a ideia de não ser suficiente para Tomas.
O amor romântico é uma invenção cultural. Foi a modernidade que inventou o amor subjetivo e a fidelidade ao amor romântico. Freud e Lévi-Strauss afirmaram que a regulação moral do sexo é a fonte da cultura, ou seja, a cultura é fruto da repressão aos instintos, ou controle deles. É isso que nos faz evoluir com humanos. Mas o preço seria a infelicidade?
O amor não regula os instintos, é a moral. O instinto é da ordem da natureza, a moral da sociedade. O instinto carnal de Tomas existe, cabe a ele controlá-lo através da moral familiar: valores e princípios. No final das contas, Tomas é um canalha, envolve outro ser humano na sua vida instintiva e sem responsabilidade.
Se você não leu o livro deve estar pensando: "Por que Teresa aceita? Por que não vai embora?" Ai vem o spoiler, ela vai embora. Ela decide acabar com aquela angústia, mas Tomás é egoísta demais e vai atrás dela. Agora invocarei a sociologia, Talcott Parsons, sociólogo estadunidense, via o sistema biológico e psicológico como criadores de nossas necessidades e o sistema social e cultural reguladores com normas e morais. Não dá para estar na sociedade e viver como um animal.
A moral da liberação sexual, da Revolução de 1960, queria o amor livre. O amor livre significa nosso retorno à condição animal.
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