o estado pacífico e sereno de ser um tolo entre canalhas.
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ALEX: Creio que o que a Leila falou e o que nós estávamos discutindo antes sugerem duas conclusões relevantes. A primeira é a de que o bem-estar não é necessariamente função da satisfação de um número maior de desejos ou preferências (para usar o termo caro aos economistas). E a segunda é a de que as pessoas não sabem ao certo o que desejam e, o mais grave, elas podem estar sistematicamente equivocadas acerca do que poderia torná-las mais felizes. Se isso é verdade, então o indivíduo não seria invariavelmente o melhor árbitro daquilo que é melhor para si, e isso mesmo do ponto de vista estreito do seu bem-estar subjetivo.
Adam Smith, pelo que o Melo mostrou, não discordaria. Considere por exemplo, para efeito de raciocínio, duas situações hipotéticas: A e B.
Na situação A: Bentinho deseja que Capitu seja fiel, ela é fiel, mas ele acredita que ela não seja.
E na situação B: Bentinho deseja que Capitu seja fiel, ela não é, mas ele acredita que ela seja.
Em A, o desejo de Bentinho está sendo objetivamente satisfeito, mas ele não é feliz - é o inferno dos tolos.
Ao passo que em B o seu desejo não está sendo satisfeito, mas ele é feliz - é o paraíso dos tolos. A percepção nem sempre é o fato; mas isso em nada desabona o fato da percepção. No ardiloso tabuleiro da busca da felicidade, o fato da percepção com frequência vira o jogo.
O que é preferível, A ou B?
MELO: Desculpe, Alex, mas não resisto. Vocês conhecem a definição de felicidade dada por Jonathan Swift? Ela é a posse perpétua da condição de estar bem enganado; o estado pacífico e sereno de ser um tolo entre canalhas. ”
Pobre Bentinho...
(Eduardo Giannetti, Felicidade.)